O assessor técnico do Fundo Nacional de Saúde e especialista em finanças do SUS (Sistema Único de Saúde), Francisco Funcia, esteve em Marília na noite desta quinta-feira (4). Para ilustrar os efeitos da regra que considera desastrosa, Funcia afirmou que não haveria perdas “se, somente se, a população brasileira não aumentasse em um único cidadão, não envelhecesse e se não surgisse nenhuma nova doença em 20 anos”.O economista revelou que o Brasil investe diariamente em saúde apenas R$ 3,60 por pessoa e alertou para os efeitos da Emenda Constitucional 95, que congela gastos por 20 anos.
Ainda assim, segundo ele, haveria perda de cerca de 30%, já que a inflação da saúde (fortemente impactada pela variação do dólar) não é a mesma apurada no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que a União passou a usar para corrigir o teto de gastos.
TODOS USAM O SUS
Funcia disse ainda que é preciso acabar com a cultura do “eu não dependo do SUS, porque tenho plano de saúde”. Ele lembrou que qualquer pessoa que toma água (potável, adquirida da rede ou envasada) ou todo cidadão que vai a um restaurante, ou come alimentos industrializados usa o sistema de saúde, por meio da Vigilância Sanitária.
“Em 2017, somado tudo que os governos gastam com a saúde (União, estado e município), foi investido apenas R$ 3,60 por dia com cada cidadão. Isso dá um total de R$ 108,00 por mês e R$ 1.300 por ano, atingindo cerca de 1,7% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Nosso sistema foi inspirado no Reino Unido e lá o investimento anual é de 7,9% do PIB”, apresentou o economista.
Ele exemplificou que as vítimas de acidentes ou traumas graves (independente de ter ou não plano de saúde) são atendidas em hospitais públicos de urgência, muitas vezes transportadas pelo Samu. Só são transferidas após estabilizadas.
“No caso das vacinas, até quem pode recorrer a clínicas particulares também usa o SUS. De nada vai adiantar a pessoa estar imune a uma, duas, três doenças, se o vizinho ou colega de trabalho não tiver acesso às vacinas. Uma hora ela pode adoecer porque uma nova doença vai chegar ou essa pessoa pode ser mordida por um cão raivoso na rua, não imunizado nas campanhas do SUS”, exemplifica.
PAPO-CABEÇA
A apresentação de Francisco Fúncia foi prestigiada por membros do Comus, servidores da Saúde, profissionais liberais, representantes de instituições de saúde e de Conselhos profissionais, acadêmicos e docentes da Saúde, além de outras pessoas interessadas em entender e discutir o tema.
Kátia lembrou que o Brasil herdou o SUS da reforma sanitária, um legado reconhecido como uma das principais conquistas da Constituinte.A secretária municipal da Saúde, Kátia Santana, voltou a alertar para a necessidade de participação popular e de interesse, de fato, em compreender o funcionamento do SUS, para enriquecer as discussões.
“Temos que dialogar sobre o Sistema, entender o seu funcionamento, identificar e corrigir o que está errado, mas não podemos admitir discursos que ignoram tudo de bom que o SUS oferece e focam apenas nas fragilidades, por interesses pessoais ou escusos”, alertou a secretária.
Para o presidente do Comus, Gilberto Martins, a presença do economista na cidade acrescenta importantes informações, para os conselheiros e a população em geral.
“A presença do professor Funcia traz muita informação relevante e soma nos preparativos para a X Conferência Municipal de Saúde, que acontecerá em novembro. A saúde não é feita somente pelos governos, mas por todos nós. Por isso só melhora quando participamos”, destacou o conselheiro.
A Pré-Conferência Municipal de Saúde acontece no dia 17 de outubro, às 19h30, na Emef “Edmea Braz Rojo Sola”, atrás do CMEEC “Professora Neusa Maria Bueno Ruiz Galetti”, popular ginásio da avenida Santo Antônio.
Fotos: Colaboração Célia Castro/Comus